TEXTS / O SONHO DO SABIÁ - ARTHUR PALHANO PARA “NINHO” INDIVIDUAL DE GABRIEL LOEW
Talvez regar o pátio interno seja uma obrigação. Tudo o que não é praticado se esquece, desvanece. Talvez lembrar da pergunta seja a resposta para alguma inquietação fundamental. Perguntar-se como um exercício diário. Praticar como para um concerto.
Talvez o voo do pássaro anuncie a ansiedade de sua volta ao ninho. Talvez o ninho sem pássaros seja como um casulo vazio, deixado para trás, oco, em prol do voo da borboleta. Migrações implicam reconstruções: partir com o que é essencial, com o que é leve. Pássaros não possuem bexigas ou mochilas, muito menos bolsos e maletas. E, se pudessem nos contar, diriam que levam, em suas asas, apenas uma rota norteadora e um punhado de expectativas de sobrevivência.
É bonito, mas ingênuo pensar na liberdade das aves. Ainda que bela a imagem do voo, elas aprendem desde cedo a deixar ninhos para trás. E como cantam os pássaros! Apesar de tudo. Talvez cantem como Tom Jobim canta Sabiá: uma lamúria, um desejo de volta. Eu vou voltar!
Talvez o sonho do sabiá seja poder cantar para os seus. Depois de todo esse percurso, voltar para casa e cantar para os seus. Até que não haja mais forças. E, depois de muitas ninhadas chocadas, morrer em seu próprio lar. Se as aves pudessem reencarnar, tenho certeza de que abririam os olhos naquele primeiro ninho.
Talvez regar o pátio interno seja uma obrigação. Tudo o que não é praticado se esquece, desvanece. Talvez lembrar da pergunta seja a resposta para alguma inquietação fundamental. Perguntar-se como um exercício diário. Praticar como para um concerto.
Talvez o voo do pássaro anuncie a ansiedade de sua volta ao ninho. Talvez o ninho sem pássaros seja como um casulo vazio, deixado para trás, oco, em prol do voo da borboleta. Migrações implicam reconstruções: partir com o que é essencial, com o que é leve. Pássaros não possuem bexigas ou mochilas, muito menos bolsos e maletas. E, se pudessem nos contar, diriam que levam, em suas asas, apenas uma rota norteadora e um punhado de expectativas de sobrevivência.
É bonito, mas ingênuo pensar na liberdade das aves. Ainda que bela a imagem do voo, elas aprendem desde cedo a deixar ninhos para trás. E como cantam os pássaros! Apesar de tudo. Talvez cantem como Tom Jobim canta Sabiá: uma lamúria, um desejo de volta. Eu vou voltar!
Talvez o sonho do sabiá seja poder cantar para os seus. Depois de todo esse percurso, voltar para casa e cantar para os seus. Até que não haja mais forças. E, depois de muitas ninhadas chocadas, morrer em seu próprio lar. Se as aves pudessem reencarnar, tenho certeza de que abririam os olhos naquele primeiro ninho.