TEXTS / ZSONAMACO - FRED PALLACHIN

        At the 20th edition of Zonamaco, Portas Vilaseca Galeria is pleased to present a solo project featuring the latest production from Brazilian artist Arthur Palhano. Palhano unveils a compelling series of new small-format paintings born out of his meticulous exploration of pictorial construction techniques and the symbolic interplay between objects. This artistic endeavor comes to life through the innovative application of layer scraping techniques — an investigative process that permits the images to organically surface from the very core of the artworks, rising from the depths of their own richly textured oil paint and enamel surfaces. This method results in a kind of telluric experience of time – that which comes from the surface, which occurs in the sedimentation of matter and is made through its cracks and crevices.

          In the process of creating his paintings for the fair, the artist deliberately immersed himself in the often stereotyped realm deemed "Mexican," a space frequently exoticized by American cinema and literature. The notion of "escaping to Mexico" has consistently been portrayed as an inviting storyline for American anti-heroes, evolving into a cliché emblematic of fresh starts, rebirth, and even the evasion of death within the desert.

         The dichotomies of "death and life," a recurring motif in Palhano's body of research, resurface in this latest production. Here, they materialize as a spontaneous convergence with the "Day of the Dead," an indigenous celebration observed in Mexico on November 2 to pay homage to the departed, granting their souls purported permission to revisit their living kin. The works "La Catrina" and "Dois de Novembro" joyously commemorate this festivity, unraveling layers to unveil Mexican skulls — one inspired by the illustrations of José Guadalupe Posada and the other by the diverse puppets and grand effigies that compose the celebratory ritual.

          In exploring another facet of dualism, the painting "El Alcaran" intricately weaves a narrative reminiscent of a symbolic lottery card game, portraying a scorpion as its central figure. The scorpion, embodying archetypes of both strength and immortality, interlaces its symbolism with undertones of revenge and perversity. Within this context, Palhano creates a tapestry of contrasts, however with the aim of seeking a delicate counterbalance – akin to the villain who draws us nearer to the hero, or the devil who, paradoxically, propels us towards the divine.

          An integral facet in crafting these paintings involved the meticulous curation of "cold images" — representations within the public domain. These encompassed newspaper clippings featuring wrestling narratives ("Os brutos também amam") and decals portraying tattoos of Our Lady of Guadalupe ("Tatuagem"), a figure of profound significance in Mexican history, revered as a symbol and frequently chosen for devotion through tattoo artistry. The tattoos found on the bodies of the condemned also inspired the artist to create the figure of "Maxine," a woman idealized by musician Donald Fagen in his song of the same name, released in 1982. In the lyrics of this sophisticated pop-jazz song with hints of a suburbanite soap opera, Fagen utters some romantic reveries about the incompleteness of a long-distance relationship with a Mexican woman.

          Furthermore, "Guloseimas" acts as a visual testimony to the rich tapestry of sound from the 70s. Insignia from classic bands of that period are interwoven next to a skull, like tattoos or patches for jackets. Each symbol, with its bold aesthetic, tells a story of its own, a musical narrative that resonates with a remarkable nostalgia.

          The works "Primário" and "Ginásio" reproduce the wooden textures of school desks – a revival of the daring and irreverence of the act of drawing on less conventional surfaces, challenging established norms. Each notch and mark applied to the surface creates a curious dialogue between creative chaos and artistic discipline. Here, Palhano evokes stories of clandestine creation, adding a layer of nostalgia that blends with the patina of time.

          Finally, the work “Malabar” is in dialogue with Palhano’s routine in his studio space, located in the city center of São Paulo, where it’s very common to find discarded objects on the streets and also circus artists, mainly jugglers, working at traffic lights. There is a curious poetics here that juxtaposes the insecurity of a subsistence reality, so common in big cities, with the contingency of an unexpected encounter with a pair of work gloves. 


          Na 20ª edição da Zona Maco, a Portas Vilaseca Galeria tem o prazer de apresentar um projeto solo com a mais recente produção do artista brasileiro Arthur Palhano. Palhano revela uma série envolvente de novas pinturas em pequenos formatos, nascidas de sua meticulosa exploração de técnicas de construção pictórica e da interação simbólica entre objetos. Este esforço artístico ganha vida por meio da aplicação inovadora de técnicas de raspagem de camadas — um processo investigativo que permite que as imagens emergem organicamente do próprio cerne das obras, subindo das profundezas de suas superfícies ricas em texturas de tinta a óleo e esmalte. Esse método resulta em uma experiência telúrica do tempo — aquela que vem da superfície, que ocorre na sedimentação da matéria e se revela por meio de suas fissuras e fendas.

          No processo de criação de suas pinturas para a feira, o artista se imergiu deliberadamente no reino muitas vezes estereotipado do que é considerado "mexicano", um espaço frequentemente exotizado pelo cinema e literatura americanos. A noção de "escapar para o México" tem sido constantemente retratada como uma narrativa convidativa para anti-heróis americanos, evoluindo para um clichê emblemático de novos começos, renascimento e até mesmo a evasão da morte no deserto.

          As dicotomias de "morte e vida", um motivo recorrente na pesquisa de Palhano, ressurgem nesta nova produção. Aqui, elas se materializam como uma convergência espontânea com o "Dia de Mortos", uma celebração indígena observada no México em 2 de novembro para homenagear os falecidos, concedendo suas almas a suposta permissão para revisitar seus parentes vivos. As obras "La Catrina" e "Dois de Novembro" comemoram alegremente essa festividade, desvendando camadas para revelar caveiras mexicanas — uma inspirada nas ilustrações de José Guadalupe Posada e a outra nas diversas marionetes e efígies grandiosas que compõem o ritual celebratório.

          Explorando outra faceta do dualismo, a pintura "El Alcaran" entrelaça uma narrativa reminiscentes de um jogo simbólico de cartas de loteria, retratando um escorpião como figura central. O escorpião, que incorpora arquétipos de força e imortalidade, entrelaça seu simbolismo com nuances de vingança e perversidade. Nesse contexto, Palhano cria uma tapeçaria de contrastes, porém com o objetivo de buscar um delicado contrabalanço — semelhante ao vilão que nos aproxima do herói, ou ao diabo que, paradoxalmente, nos impulsiona em direção ao divino.

          Um aspecto integral na elaboração dessas pinturas envolveu a curadoria meticulosa de "imagens frias" — representações do domínio público. Essas incluíam recortes de jornal com narrativas de luta livre ("Os brutos também amam") e adesivos retratando tatuagens de Nossa Senhora de Guadalupe ("Tatuagem"), uma figura de profunda significância na história mexicana, reverenciada como um símbolo frequentemente escolhido para devoção por meio da arte da tatuagem. As tatuagens encontradas nos corpos dos condenados também inspiraram o artista a criar a figura de "Maxine", uma mulher idealizada pelo músico Donald Fagen em sua canção de mesmo nome, lançada em 1982. Nos versos dessa sofisticada canção pop-jazz, com toques de uma novela suburbana, Fagen expressa algumas reveries românticas sobre a incompletude de um relacionamento à distância com uma mulher mexicana.

          Além disso, "Guloseimas" atua como um testemunho visual da rica tapeçaria sonora dos anos 70. Insígnias de bandas clássicas desse período estão entrelaçadas ao lado de um crânio, como tatuagens ou patches para jaquetas. Cada símbolo, com sua estética ousada, conta sua própria história, uma narrativa musical que ressoa com uma notável nostalgia.

          As obras "Primário" e "Ginásio" reproduzem as texturas de madeira das carteiras escolares — uma revivência da ousadia e irreverência do ato de desenhar em superfícies menos convencionais, desafiando normas estabelecidas. Cada entalhe e marca aplicada à superfície cria um curioso diálogo entre o caos criativo e a disciplina artística. Aqui, Palhano evoca histórias de criações clandestinas, adicionando uma camada de nostalgia que se mistura com a pátina do tempo.

          Por fim, a obra "Malabar" dialoga com a rotina de Palhano em seu espaço de estúdio, localizado no centro da cidade de São Paulo, onde é comum encontrar objetos descartados nas ruas e também artistas de circo, principalmente malabaristas, trabalhando em sinais de trânsito. Há uma poética curiosa aqui que justapõe a insegurança de uma realidade de subsistência, tão comum nas grandes cidades, com a contingência de um encontro inesperado com um par de luvas de trabalho

- FRED PALLACHIN