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Pôr do Sol para Desenhos de Geladeira (Jardim I), 2024
Oil on canvas
30x40cm
Se a pintura é mão e a escultura é cabeça, o desenho é fígado. Nas investigação arredia e descompromissada do traço – seja como elemento de fricção de uma matéria dura sobre a mole, ou mesmo como o pensa- mento expandido de uma curva – tudo é possível. O mundo, duro em sua demanda de concretude, se contrapõe à generosidade da técnica que pede, constrangida, uma folha ou um espaço na parede.
É em elegia à potência e à fragilidade do desenho que esta exposição encontra a sua razão de ser. Em resposta, os cinco artistas aqui presentes informam o óbvio ululante: se a mão que esboça a linha é única graças às cavidades de suas digitais, o mesmo se assemelha em relação à lógica interna de cada traço. Assim sendo, expõem-se aqui amostras de dese- nhos–esculturas, desenhos–pinturas, desenhos–desenhados, anti–dese- nhos, desenhos–em–pura–virtualidade, desenhos–em–farsa, entre outras roupagens cuja categoria são mantidas no puro segredo de seus funciona- mento. Sobre esses últimos: se indagar é incerto, afirmar saber é tolice.
Em paralelo ao desenho, a escrita. Certa vez, Clarice Lispector exprimiu o desejo de “escrever ao sabor da pena”. Veja, Clarice não usava penas – seu amor pela máquina de escrever era frequentemente disparador de textos reflexivos. Frente à estranheza da afirmação, ela disse: “Escrever ao sabor da pena - estou falando de procurar em si próprio a nebulosa que aos poucos se condensa, aos poucos se concretiza, aos poucos sobe à tona - até vir num parto a primeira palavra que a exprima”. Aqui, presentes, alguns fugitivos dessa grande nuvem.
Dentro do corpo desfuncional da arte, o desenho é fígado. Filtra tudo.
-LUCAS ALBUQUERQUE
If painting is hand and sculpture is head, drawing is liver. In the unruly and uncommitted investigation of the stroke—be it as an element of friction between hard matter and soft, or even as the expanded thought of a curve—everything is possible. The world, hard in its demand for concreteness, opposes the generosity of technique that, constrained, asks for a sheet or a space on the wall.
It is in an elegy to the power and fragility of drawing that this exhibition finds its reason for being. In response, the five artists present here inform the obvious: if the hand that sketches the line is unique due to the patterns of its fingerprints, the same applies to the internal logic of each stroke. Thus, here are samples of drawing–sculptures, drawing–paintings, drawing–drawn, anti–drawings, drawings–in–pure–virtuality, drawings–in–farce, among other forms whose categories remain shrouded in the pure secrecy of their functioning. Regarding the latter: to inquire is uncertain, to claim knowledge is foolish.
In parallel with drawing, there is writing. Once, Clarice Lispector expressed the desire to “write to the rhythm of the pen.” Note that Clarice did not use pens—her love for the typewriter was often the trigger for reflective texts. In light of the strangeness of her assertion, she said: “Writing to the rhythm of the pen—I am talking about seeking within oneself the nebula that gradually condenses, gradually becomes concrete, gradually rises to the surface—until the first word that expresses it comes forth in a birth.” Here, present, are some fugitives from that great cloud.
Within the dysfunctional body of art, drawing is liver. It filters everything.
-LUCAS ALBUQUERQUE